Caridade e o Caminho da Bruxaria e do Xamanismo

Há alguns dias um grande amigo meu participou de um Simpósio de Bruxaria Tradicional que fizemos aqui em casa, onde tivemos algumas ritualísticas, e ele pode sentir o enorme poder com o qual trabalhamos.

Ele passou por um processo de limpeza astral, onde foram removidos alguns bloqueios de sua energia e ele pode, enfim, sentir sua real energia circular livre por todo seu ser.

Desde então sua vida mudou muito e ele tem estado imensamente feliz e grato pelo processo que se iniciou em sua vida.

Ele então questionou o porquê de não temos um local para prestar este tipo de “serviço” em forma de caridade, como é feito em outros lugares, oriundos de outros caminhos religiosos.

Eu respondi o seguinte:

“Porque caminhos que envolvem magia não são caminhos focados em caridade, até porque a caridade não ajuda ninguém, não é eficaz. É um caminho para percorrermos sozinhos, para o desenvolvimento de poder pessoal e autoconhecimento”.

Esta resposta saiu de minha boca sem que eu nem ao menos pensasse nela.

Então me coube refletir sobre o que eu disse, e é uma grande verdade!

Segue agora uma explicação sobre o que refleti sobre esta afirmação:

Primeiro precisamos começar explicando o conceito de caridade.

Segundo o dicionário Aurélio, caridade significa:

1. No vocabulário cristão, o amor que move a vontade à busca efetiva do bem de outrem e procura identificar-se com o amor de Deus; ágape, amor-caridade.

2. Benevolência, complacência, compaixão.

3. Beneficência, benefício; esmola.

Não acredito em caridade, sob o conceito de compaixão e esmola. Pode chocar a muitos o que vou dizer agora, mas, no meu modo de ver as coisas, a caridade, dentro do conceito que me refiro aqui (compaixão, esmola), envolve um sério problema de ego de quem pratica a caridade e um outro sério problema de falta de autoestima de quem a recebe.

Explico.

Quem pratica caridade, por ter PENA do outro, se julga MELHOR que o outro, julga que o outro não é capaz de se auto ajudar, de se levantar sozinho, de resolver seus problemas. Então, para massagear seu ego, essa pessoa vai lá e dá a esmola que a pessoa necessita naquele momento (dinheiro, comida, ou atitudes como “levantar do chão”, dar colo, passar a mão na cabeça, aconselhar, enxugar as lágrimas, resolver o problema da pessoa por ela, etc.). E o que acontece depois?! O caridoso se sente melhor, pois se não fosse sua “ajuda” aquele coitado não conseguiria sair da situação que estava. Seu ego se infla! “Sou uma pessoa boa! Eu ajudei fulano”!

E quem recebe a caridade?! Este é mesmo um coitado. Afinal, nem ele mesmo acredita que pode se livrar da situação sem ajuda de alguém. Então essas pessoas são como vírus, pois não conseguem se auto sustentar, sempre estão a procura de alguém que possa lhes prover o que necessitam, seja dinheiro, atenção, carinho, ajuda...

Olhando sob este ponto de vista, você realmente acha que o caridoso está ajudando?!

Não! Ele não está!

Enquanto os “esmoleiros” tiverem ao seu redor quem lhes dê esmolas, continuarão a mendigar pelo resto de suas vidas. Nunca irão procurar uma forma de se virarem sozinhos.

Todos nós temos condições de desenvolvermos poder pessoal, de construirmos nossas vidas da forma como quisermos e todos nós somos 100% responsáveis por tudo que nos acontece! TUDO!

Ou conquistamos porque nos esforçamos para isso, ou atraímos porque queríamos isso, ou permitimos que nos acontecesse, por falta de poder pessoal. 

Obs: O texto anterior a este, que postei aqui no blog, aborda essa questão também.

Se a pessoa está numa enrascada, seja ela qual for, caiu nela porque quis, porque procurou por isso ou porque permitiu isso. A culpa é SÓ dela! Então quem tem que resolver o problema é a pessoa, e não você!

Enquanto ela não aprender isso, continuará estagnada na mesma situação.

Enquanto você a estiver “ajudando” o que estará fazendo, na verdade, é permitindo que ela se mantenha na merda em que se enfiou.

Quer ajudar de verdade?! Não faça nada.

Ou melhor, dê a ela o exemplo. Ensine a pescar ao invés de entregar o peixe!

Mostre a essa pessoa que ela pode ser melhor do que é, porque você está, neste momento, numa situação melhor. Mostre a ela o que você fez para estar numa situação melhor. Apenas mostre. Ensine a ela como ela pode sair da situação. ENSINE! Não faça por ela. Se fizer, não ajuda em nada. Só infla seu próprio ego, mostrando pra pessoa que você é melhor do que ela, e afunda a pessoa mais ainda na merda!

Assim, conclui-se que, para ajudar alguém de verdade, primeiro ajude a si mesmo. Seja alguém bom o suficiente para servir de exemplo pra alguém. Afinal, como você pode ajudar alguém, de verdade, se sua vida não for exemplo de prosperidade, felicidade e saber?!

Se você não é capaz de ajudar a si mesmo, o que de realmente bom você pode fazer pelo outro?!

É claro que, em situações extremas, nos sentimos até obrigados a praticar algum tipo de caridade. Por exemplo, quando ocorrem grandes catástrofes e as pessoas perdem tudo. Ali é um momento em que a SOLIDARIEDADE é necessária! Por isso nem chamaria de caridade, mas de solidariedade mesmo. É dividir o que você tem com pessoas que perderam tudo! Mas não é carregá-las no colo, e sim prover meios para que elas se ergam sozinhas.

Outro exemplo: Se alguém bate a nossa porta ou nos aborda na rua estando com muito frio ou muita fome, se temos como agasalhar esta pessoa ou dar-lhe de comer, acabamos fazendo isso, sim. Porém isso é apenas um paliativo. Se fizermos APENAS isso, não é ajuda real. É preciso encaminhar esta pessoa a um centro que preste ajuda a pessoas assim, que lhes ofereça abrigo, alimentação, tratamento médico e uma forma de recomeçar a vida, capacitando-a profissionalmente. Existem milhares de lugares assim! Se você mesmo não pode fazer isso pela pessoa, encaminhe-a a um lugar que faça isso! Se essa pessoa não quiser procurar essa verdadeira ajuda, ela voltará a bater na sua porta em breve, pedindo a mesma esmola novamente. Neste caso, não dê. Pois se der, estará entrando no círculo vicioso do Ego x Mediocridade. Apenas quando ninguém mais der a esta pessoa a esmola que ela pede é que ela vai ser obrigada a procurar ajuda de verdade, e vai aprender a andar sozinha, a cuidar de sua própria vida. E se ela não procurar, o problema é dela, e não seu! Se ela morrer de fome ou de frio, a culpa é dela, e não sua! Precisamos aprender a aceitar as escolhas dos outros... Por pior que elas sejam.

Outra questão é em relação a amigos e parentes. Muitas vezes as pessoas deixam de cuidar da própria vida pra cuidar da vida do outro!
Fala sério?! Você acha que é certo isso?! Cuide primeiro dos seus problemas, das suas questões! Deixe que cada um cuide de sua própria vida!
Mas sabe por que é que muitos fazem isso?! Não é porque são bonzinhos, ou porque são caridosos... Não é porque preferem ajudar ou fazer pelo outro do que por si mesmos... Não, meu amigo! A verdade é bem mais sórdida! É porque essa pessoa está é fugindo dos próprios problemas! Usa o "cuidar do próximo" como escudo! Se faz de boa pessoa, de caridoso, porque não quer cuidar e olhar para a sua própria vida! Não quer ter o trabalho de enxergar e resolver os seus próprios problemas. É bem mais fácil cuidar dos problemas dos outros, afinal não foi você o responsável por eles, não é?! Mas dos seus problemas não quer cuidar, né?! Não quer olhar a merda que você fez ou está fazendo com sua própria vida! Não quer ser responsável por sua miséria. Aí cuida da vida dos outros e usa isso como desculpa por não ter tempo pra cuidar da sua. Aí, se sua vida está uma merda, você diz: "Mas é que eu acabo cuidando mais de ajudar fulano e sicrano do que cuidando de mim, se eu não ajudá-los, o que será deles?". Nossa, como você é bonzinho, né?!
Ah, me poupe dessa balela!!!
Já fiz isso também, meu amigo, já carreguei o mundo nas costas e bati no peito dizendo estas mesmas palavras! E eu estava errada! Não ajudei ninguém e só me prejudiquei!
Hoje eu quero é saber de mim!
Só quando EU estiver plenamente curada de todos os problemas que criei pra mim, das doenças que desenvolvi por conta das escolhas erradas que fiz, é que vou poder servir de exemplo pra alguém seguir. Até lá, só o que eu posso fazer é contar sobre as escolhas que fiz, erradas ou certas, e dizer como estou fazendo pra caminhar e acertar. Não há mais nada que eu possa fazer pra ajudar ninguém. Mais nada!

Agora vamos pegar toda esta explicação e colocar isso dentro do contexto religioso.

Existem inúmeros lugares, dentro de vários caminhos religiosos, onde pessoas oferecem passes, limpezas astrais, desobsessões, fazem trabalhos para atrair isso ou aquilo... Em alguns lugares isso é oferecido como caridade, gratuitamente, em outros é um “serviço” pago.

Seja como for, se o “trabalho” se RESUME a isso, é caridade e não ajuda verdadeira!

Atrai um monte de mendigos espirituais, em busca de esmolas espirituais.

É uma forma de quem está ali “servindo” se achar a melhor pessoa do mundo, pois está “livrando o outro” de energias ruins e abrindo seu caminho, enquanto o outro vai sempre ficar achando que se não tiver a ajuda desta pessoa, ou deste lugar que frequenta, sua vida nunca irá pra frente.

Isso não ajuda ninguém!

Por isso que afirmei, e afirmo novamente: O caminho da bruxaria ou do xamanismo não são caminhos focados em caridade, porque a caridade não ajuda ninguém. São caminhos que devemos percorrer sozinhos, para buscar o desenvolvimento de poder pessoal (íntimo) e autoconhecimento.

Na bruxaria tradicional e no xamanismo, os seres com os quais trabalhamos não tem a função de ficar dando apoio a pessoas que ficam se fazendo de coitadinhos, que precisam de atenção, que precisam ficar justificando tudo que acontece em suas vidas pondo a culpa em “encostos”, “obsessores” ou “feitiços do mal” (popularmente chamados de macumbas).

Os seres com os quais trabalhamos vêm até nós para nos ensinar a sermos pessoas melhores. Vêm nos ajudar a nos curarmos e nos limparmos de conceitos errados que carregamos conosco.

Só após este processo de autoconhecimento e autocura é que estaremos prontos para, então, sermos capazes de prestar algum tipo de auxílio real para outras pessoas.

Primeiro precisamos cuidar de nós mesmos.

Sermos alguém livre de amarras, de doenças, de problemas.

Sermos prósperos, felizes, bem resolvidos!

Sermos pessoas que os outros olhem e pensem: queria ser assim!

É preciso aprender a ter poder pessoal!

Só então podemos ajudar alguém de verdade.

Então, quando finalmente chegarmos neste estágio de desenvolvimento pessoal, é que podemos prestar algum tipo de auxílio real.

Este auxílio vem na forma de servir de exemplo, de mostrar como chegou onde está, como venceu.

Vem na forma de repassar o que aprendeu durante o caminho que percorreu, mostrar a pessoa que ela é capaz de resolver seus problemas sozinha, que ela pode e deve ser melhor do que é, que ela é responsável por tudo que lhe acontece.

É claro que boa parte das pessoas não quer ouvir isso.

Elas preferem continuar mendigando tudo que precisam e pondo a culpa de seus problemas em obsessores, invejosos, nos pais, no governo... Se colocam na posição de vítimas!

Daí que vem outra afirmação: “O caminho da bruxaria tradicional ou do xamanismo é para guerreiros. É um caminho para poucos, pois poucos são capazes de chamar a responsabilidade para si”.

Então hoje em dia é comum vermos pessoas buscarem a bruxaria tradicional, o xamanismo, e outros caminhos deste tipo, como caminhos para seguir, porém não conseguem permanecer neles.

Para seguir nestes caminhos você precisa ter muito poder pessoal. Precisa se conhecer a fundo, e muitos não gostam de enxergar seus podres e trabalhá-los, pois não querem aceitar suas imperfeições. Não querem ser responsáveis por seus problemas, suas doenças, preferem ser vítimas e não guerreiros.

E neste caminho, é preciso trabalhar seu ego. E isso é muito difícil! Mesmo dentro destes caminhos sagrados vejo sacerdotes, bruxos e xamãs com sérios problemas de ego, por se acharem melhores do que os outros, enaltecendo seus títulos, menosprezando o caminho de outros e diminuindo as pessoas.

É fácil entender por que. Um guerreiro é uma pessoa que enfrenta batalhas, que bate no peito orgulhoso de suas vitórias, de sua coragem. E quando vê uma pessoa na posição de vítima, se fazendo de coitadinho, é fácil sentir repulsa por ela, ainda mais porque nós sabemos que não existem vítimas, todos são responsáveis pelo que lhes acontece...

Por isso, eu mesma me pego fazendo isso às vezes... Debochando da cegueira de algumas pessoas, rindo da fé castradora de alguns, e me achando muito melhor. Eu estou errada ao fazer isso!

É preciso aprender que neste momento eu posso sim estar numa posição muito superior do que de outras pessoas, e não é errado me orgulhar disso, porque eu batalhei muito, passei por inúmeras provações e testes pra chegar onde cheguei, trabalhei meus defeitos, reconheci meus erros, perdoei pessoas, perdoei a mim mesma, me reencontrei, me redescobri, mas há ainda um imenso caminho pela frente pra percorrer, pois estou evoluindo, me aperfeiçoando.

Mas isso não me dá o direito de debochar do outro, mesmo às vezes a situação sendo tão esdrúxula que é quase impossível não rir...

Mas estas pessoas que se encontram neste nível de mediocridade, na verdade, precisam é de ajuda real pra enxergarem que estão sendo manipuladas por falsos líderes religiosos. Rir e debochar delas não as ajuda em nada, e nos torna ególatras...

Daí a batalha do ego, neste caminho, ser uma batalha tão difícil de travar e da qual nunca podemos nos distrair. E não se trata de vencê-lo, derrotá-lo, e sim dominá-lo, tê-lo sob controle, conviver com ele, entendê-lo e aceitá-lo. Afinal, o ego também faz parte de nós.

Enfim, procuro trabalhar isso em mim, pois ainda é algo que me incomoda demais, ver pessoas totalmente alienadas e manipuladas por suas crenças castradoras e mentirosas... Ou por suas vidas medíocres... Meu ego me faz sentir superior a elas. Então estou trabalhando isso...

Mas, na verdade, elas me servem de exemplo. Exemplo de como não ser, de como não fazer. Portanto, me ajudam em meu caminho, me ajudam a ser melhor. Também acabam sendo mestras. Elas têm seu propósito em minha vida.

E como podemos ajudá-las?!

Simples... Dando o exemplo. Sendo felizes, prósperos, bem resolvidos, bem sucedidos em todos os aspectos de nossas vidas.

Quando elas estiverem prontas para sair da escuridão, elas virão nos procurar para que mostremos que existem outros caminhos a seguir, caminhos que as libertem.

Não adianta irmos até elas.

Elas é que têm que acordar sozinhas.

Muita gente não acorda nem jogando um balde de água fria na cara!

Então não há nada que possamos fazer.

Insistir é perda de tempo e de energia.

Portanto, concentre-se, sempre, em você e em seu caminho. Não perca este foco nunca!

É o que de melhor você pode fazer, por você e por todos ao seu redor!

Seja você, em todo seu esplendor! Cumpra sua missão.

E que cada um siga seu caminho, da forma que escolher seguir.

Portanto, nós, que seguimos este caminho, podemos sim prestar auxílio na remoção de entraves energéticos que estão na vida das pessoas. Mas fazer SÓ isso não resolve o problema delas. É preciso ir muito além. Mostrar a elas que estes entraves não foram simplesmente colocados nelas por outras pessoas. Foi ela mesma que colocou ou permitiu que fossem colocados. E que apenas ela é capaz de se proteger e não deixar que isso volte a acontecer.

Existem seres que nos ajudam, sim, existem! Mas eles só são capazes de nos ajudar se tivermos abertos para seus ensinamentos e sua energia. E precisamos desenvolver nosso poder pessoal para receber este auxílio.

Se isso não for ensinado ou a pessoa não aprender, ela irá se tornar um vampiro vindo sempre a nós buscando limpeza energética! E é como eu disse, nem nós e nem os seres com os quais trabalhamos têm essa função, de ficar “limpando” a energia de pessoas que ficam se fazendo de coitadinhos e vítimas. Estes seres têm uma tarefa muito mais importante pra cumprir, que é nos ensinar a ter poder pessoal. E nós temos é que cuidar do nosso caminho e do nosso aprendizado.

Caso contrário, caímos naquele velho conceito do Mestre que ilumina o caminho para o aprendiz. Quando o Mestre não está, o aprendiz fica no escuro. O verdadeiro Mestre ensina o aprendiz a acender sua própria luz. E é isso que os seres, com os quais trabalhamos, fazem por nós! Nos ensinam como acender nossa luz, e daí pra frente iluminamos nosso próprio caminhar. Só quando formos capazes de iluminar nosso próprio caminho é que poderemos ajudar o outro de verdade, antes disso, é perda de tempo e de energia pessoal...

Giselle Keller

;)